terça-feira, 23 de março de 2010

Eliminação da Discriminação


É muito pouco o que se faz, é muito pouco o que se quer também. Só tenho certeza que é muito bom o que se canta, o que se cria nesta cidade. Estou falando do que vi no dia 21 de Março na praça da Sé em São Paulo. Um palco armado e por trás a imponente catedral. Anteriormente ao crepúsculo, surgia um arco-íris que igual eu ainda quase não teria visto, se o Jorge Dersu não tivesse chamado a minha atenção. Mas era tanta atenção que eu me perdia. No palco Ed Motta brincava, a Banda Black Rio, arrasava, Sandra de Sá emocionava, Sebastian improvisava dignamente e tudo transmutava num grande espectáculo para uma platéia digna de piedade que dançava, esmurrava seus demónios, seus desejos de ser gente. E ali, pode crer, éramos gentes. E uma amiga dizia: o Show é na Praça da Sé, mas ali não tem muito mendigos? cuidado com a bolsa. Naquele mesmo instante, a minha filha de 17 anos que tinha ficado na pousada onde residimos temporariamente, no Campo Belo, estava sendo assaltada com um canivete por um cara de 19 anos às 19h quando deixava o McDonald's da Av. Roberto Marinho, com um sorvete na mão. o assaltante ficou apenas com o sorvete dela, mais dez reais e o seu cheiro do abraço que a mesma deu, porque ele pediu, e a lembrança de que se ela o namorace, ele deixaria as ruas e não mais assaltava ninguém.(palavras de um reu confesso) confesso que preciso mudar.
Quem é essa gente meu Deus? na grande maioria negros. Que de mim, depois de mais de 20 anos sendo "acolhida" em São Paulo,vinda da Paraíba com sonho de artista, levaram de mim só o olhar e a certeza que estou aqui nessa parada e que não quero mais calar.
Volto ao crepúsculo na Praça da Sé, onde O Ed, dizia que era a hora mais bomita do dia e vem-me uma vontade danada de dançar e de sorrir porque em cada rosto de alegria que se misturava com um cheiro insuportavél de mendigos, alcoolizados, drogados, famintos se misturavam à poucos intelectuais, insolados para uma área vip, cercados por seguranças que aos poucos os devolviam para fora da grade. É que a grande maioria queria chegar perto de Sandra de Sá, no momento que a Diva desce do palco para a galera vibrar. Era tanta emoção nos rostos dessas pessoas, nas lágrimas do meu rosto junto as gargalhadas de felicidade. Ela cantava: "Não estou aqui pra sofrer/vou sentir saudade pra que/bay bay tristeza não precisa voltar"
No final, Jorge e eu passávamos enfrente o Espaço Cultural do Banco do Brasil, atores recolhendo a cena, parecia morrer a cidade com seus mendigos espalhados pelo chão nos seus tronos de castelos abandonados. E o Jorge Dersu me falava de toda a memória viva dessas pessoas em frente ao espectáculo de grátis, tornando-os cidadãos por um momento.
A minha vontade é grande de banir da história o mau trapo da sociedade, criando um dia A Dignidade das Ruas. Onde cada indivíduo tenha direito a um teto, a uma chance de se recuperar, sendo assim,poderemos, dançar, cantar e tomar sorvetes nas ruas de São Paulo. Isto é urgente!


Riso Maria Dersu

Sampa 23/03/010





São Paulo:21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Sandra de Sá, Ed Motta, Thaíde, Banda Blac Rio e mais na Praça da Sé




No dia 21 de março, quando se comemora o "Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial", acontece na Praça da Sé, a partir das 15h, um show com atrações que vão do samba ao rap, da música pop ao street dance. Ed Motta, Sandra de Sá, Thaíde, Vanessa Jackson, Banda Black Rio, DJ Vila e Trilha Sonora do Gueto, entre outros, se apresentam no projeto "Pela Paz - São Paulo é Show", que tem como mestre de cerimônias o ator, cantor e bailarino, Sebastian.



Durante o evento haverá arrecadação de alimentos não-perecíveis e doações, posteriormente destinados à Cruz Vermelha com o objetivo de beneficiar as vítimas das enchentes em São Paulo e do terremoto no Haiti. Além disso, entre uma atração e outra, serão exibidas no telão imagens sobre a luta dos povos por um mundo melhor. Pelo palco também passarão personalidades das mais diversas áreas da sociedade, como esporte, televisão, teatro e política entre outras, sempre com mensagens contra qualquer tipo de discriminação, além de apelos para ajuda humanitária e pela promoção da Paz.




Sobre a data

Foi no dia 21 de março de 1960, na cidade de Joanesburgo, capital da África do Sul, que 20 mil negros protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Quando chegaram ao bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército.



Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Esta ação ficou conhecida como o Massacre de Shaperville. Em memória à tragédia, a ONU - Organização das Nações Unidas - instituiu 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Um comentário:

  1. Não importa como se escreva, se sabemos ou não sobre o que se escreve. O importante é escrever o que se sente que deve ser escrito, transmitido. Riso Maria, este teu escrito é testemunha inconteste da sensibilidade inerente ao povo preto e branco pobre do Brasil, na maior cidade do país, onde há tanta miséria ainda. Vide os rios Tiête e Pinheiros, com seus detritos e o cheiro desagradabilíssimo. Não vamos mudar o mundo com a nossa poesia, mas damos à vida o que ela nos dá de graça. A sua poesia está aí, ali, no ar, no alto, em baixo, em tudo quanto é lugar. Em nenhum lugar. Hoje está em São Paulo, e São Paulo é a nossa cidade, onde vivemos e sofremos todas as consequências das nossas ações poéticas e artísticas, musicais. São Paulo é o mundo e o mundo também é nosso. Assim temos a liberdade de devagar ou depressa, divagar sobre o que bem entendemos: amar. Amamos, nos amamos e amaremos para sempre, primeiramente a Deus e depois os próximos, aos milhares, agora e para todo o sempre.
    Amo você
    A Paz de Cristo
    Ashé
    Axé
    Areté
    Saravá

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