segunda-feira, 14 de março de 2011

TRECHO DO MONÓLOGO OBRA INÉDITA


POETA - Vou ficar aqui e esperar, tenho que marcar esses exames hoje. Minha patroa não vai gostar. Preciso me cuidar, trabalho das seis da manhã às 11 da noite, como em pé, se você quer saber. Durmo no emprego, sou escrava mesmo ! e tenho de ficar de boca calada, não tenho direito de comer uma fruta. Eles são podres de ricos. Moram mais no Canadá, que aqui no Brasil. Faço comida para 20 pessoas, 3 vezes por semana eles recebem amigos pra jantar e eu só durmo quando deixo tudo limpo.
De manhã, eu que acordo para arrumar mochila de escola de menino já grande. Quando de lá ele não vai pro clube, traz sem avisar quantos amigos quiser para almoçar. O apartamento é enorme, passam a tarde inteira, comendo e sujando tudo que eu limpei. A menina de 15 anos, é muito mal educada, senta na mesa, e se não gosta da comida, empurra o prato e diz que é uma porcaria a comida que eu faço. A suite dela é um nojo, calçinha suja de menstruação em qualquer lugar, e eu tenho que lavar.
Tenho que me submeter, né minha filha. O salário até que não é ruim, e fico com medo de ser mandada embora. Tenho dois filhos na Bahia com a minha mãe já velha. E eu soube que empregada doméstica não tem direito a Seguro Desemprego. Já a minha irmã, deu sorte... a patroa dela ajuda ela muito em tudo que ela precisa e ela adora eles por isso e não tem coragem de sair de lá, apesar de que ela ganha salário mínimo. É lá no Morumbi, onde ela trabalha.
Até logo fia, acho que chamou minha senha: 222.

Riso Maria Dersu

Nenhum comentário:

Postar um comentário